Estética vs Sentimento

Pelo amor de Deus, eu não quero usar nada nem ninguém, nem falar do que não sei, nem procurar culpados, nem acusar ou apontar pessoas, mas ninguém está percebendo que toda essa busca insana pela estética ideal é muito menos lipo-as e muito mais piração?
Uma coisa é saúde outra é obsessão.
O mundo pirou, enlouqueceu.
Hoje, Deus é a auto-imagem. Religião é dieta.
Fé, só na estética. Ritual é malhação.
Amor é cafona, sinceridade é careta, pudor é ridículo,sentimento é bobagem.
Gordura é pecado mortal. Ruga é contravenção.
Roubar pode, envelhecer não. Estria é caso de polícia. Celulite é falta de educação.
Filho da puta bem sucedido é exemplo de sucesso.
A máxima moderna é uma só: pagando bem, que mal tem?
A sociedade consumidora, a que tem dinheiro, a que produz, não pensa em mais nada além da imagem, imagem, imagem.
Imagem, estética, medidas, beleza. Nada mais importa.
Não importam os sentimentos, não importa a cultura, a sabedoria, o relacionamento, a amizade, a ajuda, nada mais importa.
Não importa o outro, o coletivo.
Jovens não tem mais fé, nem idealismo, nem posição política.
Adultos perdem o senso em busca da juventude fabricada.
Ok, eu também quero me sentir bem, quero caber nas roupas, quero ficar legal, quero caminhar correr, viver muito, ter uma aparência legal mas…
Uma sociedade de adolescentes anoréxicas e bulímicas, de jovens lipoaspirados, turbinados aos vinte anos não é natural. Não é, não pode ser.
Que as pessoas discutam o assunto. Que alguém acorde. Que o mundo mude. Que eu me acalme. Que o amor sobreviva.
‘ Cuide bem do seu amor, seja ele quem for ‘


Autoria da jornalista Rosana Hermann

voltando...

Estou no caminho de volta.

Hoje, assim como nas outras dezenas de dias inseridos no calendário, a minha maior vontade é fugir.

Posso sentir os meses passarem e o jeito como me sinto uma prisioneira continuarem. É como se, após anos atrás dessas grades eu tivesse me tornado alguém egoísta com o meu próprio sentir, com o meu próprio pensar, com o meu pesar. Parece que já estou acostumada com as grades e paredes indestrutíveis, com a cama de alvenaria totalmente dura e inconfortável machucando minhas fracas costelas... Me acostumei com a ideia de sonhos inalcançáveis, inatingiveis e que não estarão visíveis enquanto eu estiver desse lado do alto muro invencível.

Sei que estou parado no mesmo lugar há tempos, enquanto isso, os anos voam, as rugas preenchem o vazio a minha face e eu fico a imaginar a felicidade que está do outro lado.

E em toda noite fria e escura, onde sinto meu corpo fraco e minhas lágrimas congeladas sob minhas pálpebras, posso sentir apenas minha mente girar, vagar, viajar. Minha mente... como se eu estivesse em uma viagem de ônibus, observando paisagens conhecidas passarem pela vista da janela, mas fico consciente de que estou voltando ao mesmo lugar sortido da partida, seguindo pelo caminho que me levou até esse meu fim. Trilhando sempre o mesmo caminho de volta para casa.


07/02/2010